Educação, uma questão de fé

Sou a favor do ensino religioso nas escolas, até mesmo o confessional — er como professor o representante de uma religião específica. No entanto, não apoio o projeto pedagógico. Você lembra da sua aula de estudo religioso ou, para cristãos, da catequese? Eu lembro bem da minha e, na realidade, não tinha nada de aprendizagem e sim de decoreba e doutrinação.

Por tanto, não discordo do ensino religioso em sala de aula, até porque a religião é, antes de tudo, um instrumento social e político — sim, é político porque tudo é político, as vezes porém é politicagem. Não discordo da introdução da disciplina mas gostaria de rever os matérias.

Poríamos, por exemplo, começar pela “História das Religiões”, contar um pouco da matriz comum que existem em todas as religiões monoteístas que são tão difundidas hoje. Ir um pouco além é mostrar como essas mesmas religiões vieram de outros cultos e crenças “primitivos”, como emprestaram símbolos, liturgias e tantas outras coisas particularidades de sociedades que adoravam o sol, a lua, a mãe terra e afim. Quem sabe a sim, entende que todos as crenças acabam seguindo caminhos parecidos formaríamos “crentes” mais tolerantes.

Em seguida poderia ser abordada a disciplina “A religião e Política”, demostrando como tantas vezes na história da humanidade as religiões foram ferramentas de transformação em momentos delicados de diversas nações, ajudam a manter, derrubar ou alterar momentos críticos não só pela fé mas pelo poder de comunicação de seus sacerdotes. O objetivo aqui é deixar claro o que é fé e o que é persuasão, e como “profetas” mal preparados, mal orientados ou mal intencionados podem acabar gerando conflitos e apoiando regimes que não tem compromisso algum com o bem estar dos indivíduos, e fé é isso”se sentir bem.

Logo em seguida a introdução a “Sociologia da Religião”, abordando cada “religioso” como um agente da fé dentro da sociedade. Mas não estou falando de pregação e sim da compreensão da liturgias e vivência real das mesmas. Assim teríamos menos gritos de ordem e mais ações fraternas, afinal é isso que pregam a maioria das religiões.

Chegaríamos então a “Ética Religiosas”. Com base nos princípios ecumênicos, de aproximação e uma forma de diálogo entre as denominações religiosas, a disciplina evidenciaria o respeito a cada rito, liturgia e símbolo de qualquer fé. Pois, depois que são tirados esses ícones criados pelos homens, o que sobra, é igual pra todas as religiões: a busca pelo bem comum.

Ainda tenho outras matérias em mente como “Justiça da Religião”, onde seriam elucidados erros e atrocidades cometidas em nome da fé, para que não acontecessem de novo. “Sexologia da Fé”, mostrando como o sexo faz parte de muitos ritos espalhados pelo mundo e, principalmente, como algumas passagens destinadas a ele nas maioria das liturgias são somente adendos sociais que nada tem a ver com a crença em si.

Tem muita coisa a ser feita, revista e discutida. Se o ensino religioso vier como essa proposta de elucidar a religião e promover o contato com suas contribuições sociais, eu sou a favor.

Agora, se quiserem apenas ensinar a rezar, deixo aqui três versos curtos:

Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar

Afinal, não há nada mais milagroso na nossa existência do que o brilho no olhar de quem contempla a fé. Seja qual for a fé.