Offmaria

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Faço todos os dias, há um bom tempo, meus 15 km de moto pela Dutra. Com chuva ou sol, fio ou calor, lá estou eu no caminho que é parte do meu labor. Todo ano, as vésperas do 12 de outubro, vejo o caminho se alterar. É época de romaria. Cruzo assim dezenas de pessoas que, por motivos alheios a minha compreensão, percorrem esse caminho a pé, de bicicleta, vez ou outra, à cavalo. Esse ano, no entanto, vem me espantando a quantidade absurda de romeiros, algo que apelide de “a multiplicação da fé”. Mas, outra coisa que não deu pra deixar passar: Romaria agora tem Abadá. Reparando melhor as “equipes” uniformizadas um medo incontrolável toma conta de mim. No próximo ano, ou em outro talvez, já espero ver trios elétricos com padres cantores empurrando a multidão, marcas esportivas patrocinando a peregrinação, festas em cada parada com comidas típicas da região. Quem sabe um circuito oficial de romarias e, para os que ficarem de fora, uma Offmaria, por um caminho secreto e ainda mais penitente. Quem tiver reias sobrando ainda pode ter a dádiva de caminhar ao lado de uma sub celebridade, de um ex-BBB. São muitas as possibilidade que me tiram o sono e a concentração no meu pequeno trajeto diário.

Lembro com pesar de minha avó, e de toda a fé que nutriu em toda a sua vida. Com pesar, pois não da pra não notar, onde há fé, esperança, comoção, sempre existe alguém disposto a lucrar.

A fé, até ela, é um bom negócio, a peregrinação — em breve — oferta de ocasião.

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